Dor da Perda - O medo do fim

"Perder" alguém que nos é querido, transporta-nos a uma viagem de dor, insegurança e medo que muitas vezes não conseguimos entender.

créditos da imagem @jakubcervsk

A perda de uma pessoa que amamos é algo que não queremos viver mas, inevitavelmente vai acontecer ou, já aconteceu a todos nós.

A noticia é logo à partida, um choque, mesmo que, já estivéssemos à sua espera. Parece que o mundo parou, a vida fica suspensa e, em segundos pensamos em dez, vinte coisas ao mesmo tempo mas, também, ao mesmo tempo, um vazio apodera-se de nós. Parece que a nossa Alma está a querer sair do corpo e sentimo-lo a levitar.

Pode acontecer até que começamos a ver pequenos pontinhos de luz à nossa volta. Tudo isto é fruto do choque inicial da noticia.

Entretanto, a fome desaparece, a vontade de fazer o que quer que seja, também se esvai. O desinteresse pelo que quer que seja apodera-se do corpo e da mente, enquanto o coração sente-se fraco e com falta de alimento (amor).

Vem-nos à memória que, talvez ainda não tínhamos vivido tudo com aquela pessoa e que tanto ainda havia para lhe dizer, fazer, viver. Abraços ficaram à espera da melhor altura, beijos foram esquecidos, palavras amigas e de conforto não foram ditas por um qualquer motivo, encontros não se realizaram por falta de tempo. Tempo que agora não vai faltar para carpir as mágoas do que ficou para trás e não pode ser recuperado.

Descrever a dor de uma perda é, talvez impossível pois, cada um vive-a à sua maneira. Enquanto uns, sofrem em silêncio e guardam dentro de si qualquer expressão de sofrimento que poderiam deitar cá para fora, outros não se conseguem conter e deixam transbordar tudo o que lhes rasga o coração e espezinha todo o seu corpo fisico.

Seguramente, todos sentem tristeza, mágoa, revolta e até medo.

Tristeza porque pensam que nunca mais vão estar junto do seu pai, mãe, filho/a, irmão, marido, mulher ou amigo. Tristeza porque acha que tudo podia ser diferente mas a vida foi castigadora e não lhes mostrou o que eles agora lamentam.

"Essa tristeza, com certeza, deixa de ter razão de existir, quando acreditamos que a vida não termina no fim desta vida."

Quando, quem sofreu a perda descobrir que o seu ente querido apenas se desfez do seu corpo fisico e foi para junto da sua parte divina. Que não foi o seu fim mas sim o fim daquela expressão que veio viver e experiência esta vida, talvez o sofrimento seja atenuado. Talvez comece a sentir e confiar que, a energia permanece (não a sua totalidade mas parte) aqui no Planeta, junto de si e dos seus.

Mágoa pois, durante o processo de perda, há um sentimento de que muito ficou por fazer, falar, sentir e vivênciar. Mágoa porque poderia e queria ter dito o quanto o amava e nunca teve coragem ou apenas achou que não era necessário. Mágoa pois sente que poderia ter demonstrado mais o seu amor e vivido mais momentos prazerosos juntos.

Essa mágoa desvanece-se quando percebemos que a pessoa foi, mas a sua energia acompanha-nos pois, de alguma forma, todos estamos conectados, principalmente aqueles com ligações e laços fortes que trespassam o tempo e o espaço como o entendemos.

Revolta porque se sente injustiçada com o acontecimento. Porquê ele/a, porque não outra pessoa qualquer. Revolta porque a pessoa era nova de mais e ainda tinha tanto para viver ou porque era boa de mais e não é admissível que tenha partido desta forma. Revolta porque não queremos admitir que a vida é assim, com momentos que julgamos ser injustos, desnecessários e até cruéis.

Quando percebemos que nada acontece por acaso, tudo são lições, aprendizagens, tudo são oportunidades para adquirir mais consciência, mais sabedoria. Tudo são oportunidades para acumular sentimentos e emoções que carregamos para o outro lado, quando, também nós, fizermos a passagem. Quando virmos que há vida depois da vida e que tudo acontece por um bem maior, liberta-mo-nos dessa revolta. Nesse momento, quando a dor acalmar e o nosso coração ficar mais limpo do sofrimento e dor que padeceu, podemos abri-lo para o Conhecimento, para a tomada de Consciência de que, tudo acontece por um bem maior. Tudo acontece porque assim estava "escrito", assim foi por nós decidido antes de regressarmos mais uma vez a este lindo Planeta onde viemos em serviço espalhar e recolher experiências, emoções e vivências.

Talvez até tenhamos consciência de que, não temos a percepção da totalidade do filme da nossa vida mas sim de um pequeno frame. Por isso, tudo nos parece errado, turvo e sem sentido.

Tudo isto não significa que é errado sentirmos dor, mágoa, desespero e raiva no momento em que alguém que amamos faça a passagem. É correcto, apropriado e normal. é até saudável. Tudo tem o seu tempo, até o sofrimento tem seu tempo.

Inapropriado é prolongar esse sofrimento no tempo. Em nada beneficiamos e em nada beneficia quem partiu. Quem se sente feliz ao ver quem ama a sofrer? Quem se sente feliz ao ver quem ama a sofrer por sua causa?

Acredito que ninguém.

Então, e se quem partiu, estiver do outro lado a ver quem ama sofrer por sua causa, por causa da sua passagem! Provavelmente inquietar-se-à e não poderá fazer o seu caminho em paz. Ficará preso em algum lugar no espaço e no tempo, numa dimensão intermédia que o impede de seguir o seu caminho, o caminho da totalidade, o caminho da Luz e do Amor incondicional que é o Amor da Fonte Criadora.

Nsse estado e nessa dimensão, não poderá preparar-se para mais um regresso, mantendo parte de si ligada ao Planeta e a quem ele amou e ama, uma parte que ele precisa que esteja em harmonia.

Acredita que a vida se mantém, mesmo depois do fim, porque o fim, na verdade, não é o fim, mas é o inicio de mais um recomeço, mais uma viagem, mais um regresso a casa que é a Fonte Criadora de tudo o que existe e que Tudo É, porque tudo criou.

Com Amor,

David